quinta-feira, novembro 24, 2005

Excerto da Carta a Diogneto

Um texto interessante do séc. II



Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem pela pátria, nem pela língua, nem por um género de vida especial.
Efectivamente, eles não têm cidades próprias, não usam uma linguagem peculiar e a sua vida nada tem de excêntrico. A sua doutrina não procede da imaginação fantasista de espíritos exaltados, nem se apoiam, como outros, em qualquer teoria simplesmente humana.
Vivem em cidades gregas ou bárbaras, segundo as circunstâncias de cada um e seguem costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer em outros usos; mas a sua maneira de viver é sempre admirável e passa aos olhos de todos por um prodígio. Cada qual habita a sua pátria, mas vivem todos como de passagem; em tudo participam como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria. Toda a terra estrangeira é sua pátria e toda a pátria lhes é estrangeira. Casam-se como toda a gente e criam os seus filhos, mas não se desfazem dos recém-gerados.
São de carne, mas não vivem segundo a carne. Habitam a terra, mas a sua cidade é o Céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas pelo seu modo de vida superam as leis. Amam toda a gente e muitos os perseguem. São pobres e enriquecem os outros; tudo lhes falta e tudo lhes sobra. São desprezados, mas no desprezo encontram a sua glória; são caluniados, mas transparece o testemunho da sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles abençoam. Sofrem afrontas e pagam com honras.
Numa palavra: Os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo. A alma encontra-se em todos os membros do corpo; os cristãos estão em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não provém do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo.
A alma ama o corpo e os seus membros, mas o corpo odeia a alma; e os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, mas contém o corpo; os cristãos encontram-se detidos no mundo como um cárcere, mas são eles que sustêm o mundo.
A alma imortal habita numa tenda mortal; os cristãos vivem como peregrinos em mo­radas corruptíveis, esperando a incorrupti­bilidade dos Céus.
A alma aperfeiçoa-se com a mortificação na comida e na bebida; os cristãos, constan­temente mortificados, multiplicam-se cada vez mais.
Tão nobre é o posto que Deus lhes assinalou, que não lhes é possível desertar!
(Da Epístola a Diogneto, Século II)

5 comentários:

Anónimo disse...

Desconhecia!!!

Caros Amigos disse...

Gostei do texto que ainda não conhecia.
«Casam-se como toda a gente e criam os seus filhos, mas não se desfazem dos recém-gerados».
Bom exemplo para todos os cristãos que têm de ser a alma do mundo!

Manuel disse...

Gostei de reler a Carta a Diogeneto. Sempre a considerei um texto de grande beleza e profundidade. Pöe poesia no cristianismo e interpela os cristäos...

Anónimo disse...

Acho que é um texto, mais do que nunca, actualíssimo. Nem parece que foi escrito no séc. II!

Anónimo disse...

Quem escreveu tão lindo texto?
Gostava de saber.
Parece de facto muito actual.
J. Costa