domingo, novembro 13, 2005

Congresso da Nova Evangelização

Novos caminhos

«Neste momento uma interrogação, que é um anseio, brota do coração de todos nós: que novos caminhos se abrem para a missão da Igreja, depois deste Congresso. E a resposta principal foi-nos dada pela parábola evangélica dos talentos: a fidelidade da Igreja a Jesus Cristo Vivo, à Eucaristia que celebra, à Palavra que lhe toca o coração, ao Espírito que a santifica.

...... Toda a renovação pastoral que o Congresso nos sugira, deve visar, em primeiro plano, a fidelidade da Igreja.

Fidelidade da Igreja supõe aprofundamento da fé, caminhos renovados de catequese, distribuição a todos do pão da Palavra, conduzindo os crentes para a sabedoria, onde a inteligibilidade da fé origina uma racionalidade crente, sem dicotomias entre fé e razão, valorizando a inteligência humana como capacidade de acolhimento da Palavra. O aprofundamento da fé supõe uma visão renovada da relação entre teologia como ciência da fé e acção pastoral.

Fidelidade da Igreja supõe celebrar bem, cada vez melhor, os mistérios da fé. A Liturgia tem de ser o foco irradiador da profundidade.

Fidelidade da Igreja supõe aprender a rezar. Só na experiência da comunhão íntima com Deus se entra na Sua intimidade e se descobre a alegria de ser amado por Ele. A oração é contemplação, enquanto abandono pessoal à intimidade de amor, mas é também acção, com frutos fecundos no crescimento do Reino de Deus. Só Deus conhece em que medida o futuro da cidade depende da oração silenciosa dos íntimos de Deus. Que um justo pode salvar a cidade é já afirmado por Deus a Abraão, a propósito da ameaça de destruição de Sodoma e Gomorra (cf. Gen. 18,22-32). Deste Congresso pode surgir um grande dinamismo de aprendizagem de oração: aprender a rezar celebrando e a celebrar rezando, ganhar o gosto pela adoração, de modo particular pela adoração eucarística, descobrir que toda a vida pode ser acto de louvor.

Fidelidade da Igreja supõe valorizar as diferenças e os carismas, infinita variedade dos dons de Deus, pérolas diferentes a embelezar o rosto de uma Igreja una. É humano supervalorizar o próprio dom o que pode levar a rejeitar as diferenças. O mesmo Espírito que nos guia no discernimento dos dons de Deus, é o único que nos tornará humildes e sábios para nos alegrarmos com os dons dos outros, como acordes de uma única harmonia. O próprio Santo Padre nos convida, na Mensagem que nos dirigiu, a “reforçar a comunhão entre as estruturas paroquiais e as várias realidades carismáticas largamente presentes nas vossas cidades, a fim de que a missão possa atingir todos os ambientes da vida”. Entre os diferentes carismas que enriquecem a Igreja de Lisboa, quero referir um de que pouco se fala e pode exercer papel decisivo na renovação da Igreja e da missão: refiro-me ao carisma feminino, à maneira feminina de ser cristão, de rezar, de amar, de servir, de anunciar. Alguém me disse um dia que uma das ameaças que pesa sobre a Igreja dos nossos dias é o risco de perder a mulher. Seria, de facto, uma grave perda, para a Igreja e para a mulher. Na Primeira Leitura desta celebração é-nos dito: “Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa? O seu valor é maior que o das pérolas” (Prov. 31,10). E é. Toda a mulher que procura ser plenamente mulher, numa relação amorosa com Jesus Cristo, é um dom precioso para a Igreja. Muitas lamentam que a Igreja seja demasiadamente masculina. Não é, de facto, e sê-lo-á cada vez menos na medida em que mais mulheres sejam santas e sejam capazes de abraçar o mundo num acto de amor.

Fidelidade da Igreja supõe revitalização contínua das suas estruturas pastorais. Entre estas sobressai, pela sua importância, a Paróquia. O Santo Padre pede-lhes que “assumam um comportamento mais missionário na pastoral quotidiana e se abram a uma colaboração mais intensa com todas as forças vivas de que a Igreja hoje dispõe”. Esta valorização da dimensão evangelizadora da Paróquia, ponto de convergência de todas as forças vivas, anuncia, certamente, o principal fruto deste Congresso. Se isso falhar, o Congresso poderá perder-se como simples evento, na memória da Igreja de Lisboa.

Fidelidade da Igreja significa, finalmente, dinamismo missionário. Uma Igreja fiel é, espontaneamente evangelizadora. Na sua fidelidade a Igreja descobre-se sempre como enviada à cidade dos homens. Cada cristão vive no meio dos outros homens e mulheres, toda a Igreja vive no meio da cidade, partilha com todos as alegrias e tristezas, os projectos e as utopias e essa convivência é o lugar do seu testemunho. Os problemas de todos os homens, nossos irmãos, são os nossos problemas, as causas justas da cidade são as nossas causas. E quando damos as mãos para partilhar problemas e anseios, podemos testemunhar a esperança com que o fazemos. Todas as causas justas da cultura e da civilização são objectivos da Igreja.3. Mas o Congresso não acaba hoje, porque ele continua, em ordem à Sessão de Bruxelas, e ganha uma densidade nova nas cidades que já organizaram as Sessões, na exigência da fidelidade. É preciso encontrar a convergência destes dois dinamismos: o entusiasmo das cidades que vão organizar as próximas sessões, e a riqueza do “post-congresso” para aqueles que já o organizaram. À Igreja de Bruxelas, a quem entregámos o testemunho, queremos garantir que o nosso desejo de fidelidade se concretizará, também, no empenho na próxima Sessão. E que a Virgem Santíssima, que abraçou esta Sessão de Lisboa, vos envolva no mesmo abraço».

Homilia de Encerramento pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa

Nota: Se quer ver o que foi o encerramento deste acto público, sobretudo a Procissão em honra de N. S. de Fátima leia no D. N.

3 comentários:

Anónimo disse...

Até agora foi folclore. Esperemos que passe para a vida.

José Avlis disse...

Qual folclore qual carapuça!
Toda a acção honesta e positiva implica um pré-anúncio, um adequado ritual mais ou menos criativo e apelativo, ainda que simbólico ou algo metafórico, mas não propriamente 'folclórico' no sentido banal/negativo do termo...
Para as boas acções passarem da teoria à prática, isso depende de todos nós, inclusivamente de quem tem pouca fé e esperança, ou deficiente altruísmo, ou de quem não sabe fazer mais nada, para além de criticar ou julgar os outros, como infelizmente é o caso da maioria de todos nós...
Não é por acaso que está escrito que "devemos procurar, primeiramente, o Reino de Deus e a Sua Justiça, e tudo o mais ser-nos-á dada por acréscimo"...
Isto é, todas as nossas necessidades materiais e temporais ser-nos-ão concedidas providancial e gratuitamente, na medida da nossa confiança, generosidade e amor depositados em Deus (sobretudo através das boas acções ou obras de misericórdia), como supremo Criador e Senhor de todas as coisas, à semelhança do que acontece com os animais e com as plantas...
Atenciosamente
JM

Anónimo disse...

Este e outros anónimos têm o mérito de lançar interrogações.
Quem não se questiona é autómato e nada consegue fazer com profundidade espiritual.
Mariano, gosto de o ver com genica a dar-se a isto, pressentindo que é algo de muito válido para mudar o comportamento das pessoas.
Mas é sempre bom chamar a atenção de que não podemos ficar em manifestações sejam elas quais forem. Há que passar para a vida a Fé que dizemos ter.
J. Costa