quinta-feira, abril 17, 2008

O Cónego Dr. Manuel Paulo


Faz hoje, dia 17 de Abril, 25 anos que faleceu inesperadamente o Cónego Dr. Manuel Paulo.
Muitos dos nossos leitores hão-de perguntar quem foi este homem para aqui o invocarmos. Para além de muitas outras coisas, entre as quais professor e reitor do Seminário de Coimbra, o Dr. Manuel Paulo escreveu durante cerca de 30 anos a crónica de “O Amigo do Povo” À Sombra do Castanheiro/ Ao Calor da Fogueira, que nasceu com o jornal e ainda continua a ter inúmeros leitores, hoje escrita por um outro Doutor prestigiado de Coimbra.

Estas crónicas foram publicadas em 5 volumes, após a sua morte, e ainda agora se lêem com proveito para conhecermos e reflectirmos sobre o que foram esses tempos conturbados do chamado PREC – Processo de Revolução em Curso – que se seguiu ao 25 de Abril de 1974. Nesse tempo, alguns deputados encarregavam-se de levar “O Amigo do Povo” para a Assembleia da República, onde era disputado, e o À Sombra do Castanheiro/ Ao Calor da Fogueira era por vezes matéria de aceso debate.

O Dr. Manuel Paulo ajudou – e muito – a iluminar os acontecimentos daquela época com a sua reflexão crítica e a preparar as pessoas para a resistência a uma nova ditadura de sinal contrário que alguns lhe estavam a preparar. Este insigne Mestre e Intelectual não era, como alguns pensavam, um conservador e apoiante do antigo Regime de Salazar e Marcelo Caetano. Antes pelo contrário: sei, e muitos colegas meus também o sabem, que era um firme defensor das novas ideias que já andavam no ar há alguns anos – sobretudo após o Concílio Vaticano II – e não se escusava de criticar publicamente os que no clero alinhavam por uma cada vez maior proximidade entre Igreja e Estado Novo. Um célebre escrito acusatório que um outro professor estava a redigir contra o Reitor do Seminário foi “confiscado” por alunos da minha turma e levado em triunfo ao visado Dr. Manuel Paulo, que nos ficou eternamente agradecido. Na altura nada conseguiu dizer àqueles alunos “trangressores” do respeito pela privacidade alheia, mas os seus olhos e gestos falaram melhor que todas as palavras.

6 comentários:

Anónimo disse...

Deve ter sido um grande Homem mas eu não o conheci.
Ainda não tinha nascido quando ele morreu.

Anónimo disse...

Não conheci o Cónego Dr. Paulo mas já tinha ouvido falar dele. Precisamente pelo "Amigo do Povo".
Calculo que as lutas e dissabores tenham estado no abreviamento da sua vida.

antonio disse...

Por vezes descobrimos uma Igreja presente, viva e inserida na realidade do seu tempo... mais vezes do que se imagina.

Anónimo disse...

O Dr. Paulo também foi meu professor. Era de uma inteligência ímpar.
Só não gostava do seu humor negro, quando não acertava com perguntas de cultura geral, como por exemplo esta:
Qual a cidade italiana que mais se parece com um ignorante?

Uma forma chata de nos chamar palermas.
J. Brito

Em contra-corrente disse...

Pela foto se vê que era uma boa pessoa.
Pena que já tenha morrido!...

Anónimo disse...

não privei, nem conheci, "por dentro" o Dr. Paulo, mas a impressão que mantenho, de o ver por perto, é a de uma pessoa muito próxima, de olhar terno, de quem tenho saudades.
Obrigado pelos textos que nos vai apresentando, variados e interessantes.
(Está quase, faltam 2 meses)
FF