quinta-feira, novembro 30, 2006
A ignorância é atrevida!
Não sei se algum dos meus leitores alguma vez teve que aturar uma criatura como a que vou apresentar neste post.
- Os católicos brincam com a bíblia. O que Deus lá escreveu está escrito e ninguém pode mudar – começou por me dizer com cara de poucos amigos.
– Mas porque é que diz isso? – perguntei-lhe.
- É que quando a Bíblia fala na possessão diabólica, o senhor diz que isso tem de ser interpretado à luz do que se pensava ao tempo sobre as doenças nervosas ou lá o que é. O que lá está escrito é o que Deus lá pôs ou mandou pôr. Não é para agora cada um interpretar a seu jeito.
– Olhe lá – perguntei-lhe – acha que se deve levar à letra o que Jesus diz: «Se a tua mão ou o teu pé te levam a cair em pecado, corta-os que é melhor entrar maneta ou coxo no reino do Céus do que ir parar ao inferno com ambas as mãos e pés? E se os teus olhos te fazem pecar, lança-os fora, pois é melhor salvar-se sem os olhos do que ir com eles para a geena do fogo?»
Pensei que se desse por vencida, mas aquela "santa" arranjou logo uma explicação:
– Aí é bem de ver que Deus não quer que todos fiquemos cegos ou sem pés ou mãos! Mas a Bíblia é para levar a sério, sem falsas interpretações...
Percebi que não valia a pena discutir. Estava diante duma católica que só o era porque ainda não lhe tinha aparecido alguém de uma seita cristã fundamentalista. Mas atirei-lhe em jeito de despedida:
– Sabe que Jesus foi criticado duramente pelos fariseus por curar ao Sábado? Diziam que a Bíblia proibia fazer qualquer trabalho ao Sábado! E Jesus disse-lhes: «O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado». Sabe o que é que Jesus queria dizer com aquilo?
A resposta veio de imediato:
– É que Jesus queria substituir o Sábado pelo Domingo!...
O leitor já se terá apercebido de que esta é uma daquelas pessoas com quem dialogar é perder tempo. Pensam saber tudo e têm a resposta na ponta da língua. Pensei que gente desta já não fazia parte da nossa igreja. Mas enganei-me!
segunda-feira, novembro 27, 2006
Eutanásia à força
Enfermeiro numa clínica em Sonthofen, Stephan Keller injectou letalmente 28 pacientes com uma mistura de valium e anestésicos, para "os aliviar" do sofrimento, dando-lhes uma morte sem dor. Os crimes ocorreram em 17 meses, do início de 2003 a meados de 2004, e o julgamento terminou com a condenação de Letter a prisão perpétua, da qual terá de cumprir no mínimo 15 anos, e interdição definitiva de exercer a sua profissão.
O enfermeiro alegou "compaixão" pelos seus pacientes para justificar os seus crimes. As vítimas tinham entre 40 e 95 anos, embora a maioria tivesse mais de 75.
Contudo, ficou provado que, à excepção de um dos casos, o enfermeiro agiu por ele próprio, sem haver um pedido expresso de eutanásia – nem dos pacientes, nem das pessoas mais próximas –, o que levou o tribunal a considerar que esta seria uma "piedade superficial". Muitas das vítimas nem teriam doenças que pudessem ser consideradas em fase terminal.
Este não o foi o primeiro caso do género na Alemanha. No passado mês de Fevereiro, outra mulher foi condenada a prisão perpétua pela morte de nove idosas num lar perto de Bona, entre 2003 e 2005.
Tudo isto me parece fruto duma mentalidade que está para ficar: o pouco valor da vida dos outros.
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Eutanásia
terça-feira, novembro 21, 2006
Jesus teve mulher e filhos?
Esta é uma das perguntas que se tem repetido de há uns dois anos para cá. O livro e filme "Código Da Vinci» entre muitas outras coisas faz essa afirmação, escrevendo que Jesus teve filhos com Maria Madalena. E que a descendência de Jesus teria continuado ao longo da história e ainda hoje existiria.
Mais! A Igreja tudo fez e ainda hoje é capaz de tudo fazer para esconder tal verdade. Esta a tese que serve de substracto ao referido livro, ultimamente também convertido em filme.
Qualquer historiador sabe que isto não tem qualquer consistência histórica, como muitas outras coisas que Dan Brown inventou. Quando lhe perguntam onde foi buscar tais ideias, o escritor responde que o "Código Da Vinci» é um romance e, por isso, pode afirmar o que quiser. Trata-se de pura fantasia, mas o certo é que muita gente tem levado a sério as aldrabices que Dan Brown inventou contra a Igreja, caracterizando-a como a mais malvada das sociedades.
É uma desonestidade intelectual, pois o romancista escreve que fez uma profunda e variada investigação em museus e bibliotecas. Queria ver como reagiria este escritor se alguém escrevesse um romance sobre a sua família com tantas aldrabices e infâmias. Umberto Eco, romancista e historiador italiano de renome, já por diversas vezes o apelidou de desonesto. E não só ele.
Nos evangelhos em nenhum momento se diz que Jesus foi um homem solteiro, casado ou viúvo. Referem a sua família, a sua mãe, os seus "irmãos e irmãs", mas nunca a sua "mulher".
A tradição jamais falou de um possível casamento de Jesus. E fê-lo, não por considerar a realidade do matrimónio deformadora da figura de Jesus (que foi quem restituiu ao matrimónio a sua dignidade original, Mt 19, 1-12) ou incompatível com a fé na divindade de Cristo, mas simplesmente porque se conformou com a realidade histórica.
Alguns afirmam que entre os judeus o casamento era como que uma obrigação. Mas existem dados que confirmam que no judaísmo do século I se vivia o celibato. Flávio Josefo (As Guerras Judaicas 2.8.2 e120-21; Antiguidades Judaicas 18.1.5 e 18-20). Também Filão (De vita contemplativa) assinala que os "terapeutas", um grupo de ascetas do Egipto, viviam o celibato. Além disso, na tradição de Israel, algumas personagens famosas, como Jeremias, tinham sido celibatários. O próprio Moisés, segundo a tradição rabínica, viveu a abstinência sexual para manter a sua estreita relação com Deus. João Baptista tão pouco se casou. A maior parte dos apóstolos era também solteira. Portanto, sendo o celibato pouco comum, não era algo inaudito. E Jesus engrandeceu o celibato pelo Reino. (Mateus 19, 10-12)
quinta-feira, novembro 16, 2006
“Alavancas” do P.e Francisco Antunes
Acabo de ler um livrinho dum Homem que toda a Coimbra conhece.
Falo do Padre Francisco Antunes.
Esse Homem que enquanto a saúde lho permitiu, correu meio mundo para ajudar os que precisavam. E ainda agora aparecem pessoas a bater-lhe à porta!...
Em boa hora, a Gráfica de Coimbra recolheu alguns artigos que ele publicou, há anos, no jornal “O Dever” da Figueira da Foz. Todos eles têm uma marca profunda do seu coração de Bom Samaritano. E ficam agora em livro para serem alavancas a despertar-nos a todos para a acção.
Garanto a quem os leia que lhes vão saber a pouco. E o seu preço é apenas simbólico. Um euro e meio pelo livrinho a que pôs o nome de ALAVANCAS.
Para abrir o apetite deixo aqui um naco da sua prosa. Que é também imagem do objectivo desta publicação:
«Ouvi-o muitas vezes. Nunca como naquele dia! Comigo eram centenas de milhar. Talvez tu mesmo. O tema era o Samaritano da parábola, a sua paixão, os pobres.
– Passou o sacerdote. Passou o levita. Passaram todos. Só o Samaritano parou. E todos os que passaram se julgavam dinamizados pelo Amor. Só o Samaritano mereceu canonização: “Faz tu como ele!”
E o padre Américo disse, disse e disse. Da miséria em que topava a cada passo. De como se podia dizer dele ser o senhor dos Aflitos. De como era urgente cada um afligir-se pelo seu irmão caído.
– “Meus irmãos, eu não sei nada! Só sei do Pobre. E este crucificado.”. E o seu apelo: “Aflige-te! Ama!”, galgou as serras d' Aire. Abriu brecha em crentes. E em não crentes. E anos passados eram centenas as famílias a viver em casa decente. Horta e flores à porta. Sol, luz e ar puro. A descobrir que tinham grandeza humana e vocação a alturas.
O Padre Américo foi-se. O seu apelo continua a defender-me da tentação da inércia.
Anda. Vem Comigo. Quem quer que sejas. Seremos alavancas. Dos feridos pela desgraça, dos conformados com a miséria, dos afeitos à injustiça, dos vencidos na esperança. Hei-de inquietar-te. Pegar-te fogo. Martelar-te: “Aflige-te! Ama!”
Regressado à Figueira, todos os dias me bate à porta a dor e a miséria em todas as escalas e tons.
É a Ivone. É o Rui. É o João. A «Legião», o «Casal Novo», o Jaime, a Conceição ... Os meus velhinhos. Os doentes. Os presos. Os ciganos ... Todos aqueles que há dois anos requisitei ao meu Bispo.
Mas a carga é demasiada. Cristo aceitou o cireneu. Eu preciso de alavancas. Sê alavanca.»
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Pobreza
sábado, novembro 11, 2006
No dia de S. Martinho
... falemos de amor
Hoje é o dia de S. Martinho.
Um Santo que ficou na história pelo seu amor aos pobres.
O seu gesto de dividir a capa de militar por alguém que tiritava de frio, ficou famoso. E chegou até nós. Como os magustos que dava aos pobres.
Neste dia lembro um texto da Carta-Encíclica “Deus caritas est”, do Papa Bento XVI. Põe em relevo o amor ao próximo por amor de Deus. Acolhemos e amparamos o outro porque queremos fazer a vontade de Deus que ama todos os Seus filhos e dum modo especial os “pobres”.
«Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. O Seu amigo é meu amigo. Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política. Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa. Aqui se vê a interacção que é necessária entre o amor a Deus e o amor ao próximo, de que fala com tanta insistência a I Carta de João. Se na minha vida falta totalmente o contacto com Deus, posso ver no outro sempre e apenas o outro e não consigo reconhecer nele a imagem divina. Mas, se na minha vida negligencio completamente a atenção ao outro, importando-me apenas com ser «piedoso» e cumprir os meus «deveres religiosos», então definha também a relação com Deus. Neste caso, trata-se duma relação «correcta», mas sem amor. Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama.»
Um Santo que ficou na história pelo seu amor aos pobres.
O seu gesto de dividir a capa de militar por alguém que tiritava de frio, ficou famoso. E chegou até nós. Como os magustos que dava aos pobres.
Neste dia lembro um texto da Carta-Encíclica “Deus caritas est”, do Papa Bento XVI. Põe em relevo o amor ao próximo por amor de Deus. Acolhemos e amparamos o outro porque queremos fazer a vontade de Deus que ama todos os Seus filhos e dum modo especial os “pobres”.
«Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. O Seu amigo é meu amigo. Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política. Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa. Aqui se vê a interacção que é necessária entre o amor a Deus e o amor ao próximo, de que fala com tanta insistência a I Carta de João. Se na minha vida falta totalmente o contacto com Deus, posso ver no outro sempre e apenas o outro e não consigo reconhecer nele a imagem divina. Mas, se na minha vida negligencio completamente a atenção ao outro, importando-me apenas com ser «piedoso» e cumprir os meus «deveres religiosos», então definha também a relação com Deus. Neste caso, trata-se duma relação «correcta», mas sem amor. Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama.»
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Pobreza
domingo, novembro 05, 2006
Uma voz de peso a favor da vida
Foi com muito agrado que lemos em Juntos pela vida que «de acordo com o seu Estatuto Editorial "O Correio da Manhã apoiará de forma firme a instituição Família, o direito à Vida e assume o seu apreço pelas raízes cristãs da sociedade portuguesa".
De facto, o Correio da Manhã é o jornal diário mais vendido em Portugal, o que mais uma vez nos faz tomar consciência de que a cultura e os valores civilizacionais de um povo não podem ser alterados ou impostos por qualquer jogo político ou manobra ideológica: os portugueses sabem quem são, para onde vão e o que querem.
E é desta realidade que o Correio da Manhã é, deste modo, retrato fiel – um povo profundamente ligado às suas raízes culturais cristãs em que a Família assume um papel de destaque enquanto célula nuclear de toda a Sociedade. O CM ao afirmar a importância crucial da Família enquanto geradora de Vida, de estabilidade, de passagem de valores e cultura faz, sem dúvida, um serviço aos seus leitores e ao país.
Bom seria que o nosso poder político se desse conta do papel que desempenha na sociedade; não podem os governantes mudar as mentes dos portugueses, podem (e devem!) criar condições para que a sociedade portuguesa seja fiel à consciência que já tem.
Esta atitude da direcção do Correio da Manhã demonstra uma lucidez e, também, coragem que representam uma lufada de ar fresco e a possibilidade de respirar, diante de uma comunicação social que não poucas vezes ignora a cultura portuguesa como ela é, tratando-a como alguns gostariam que fosse…
Desde já desafiamos os restantes meios de comunicação social a seguir este Bom exemplo.
Obrigado, Correio da Manhã!
A Direcção JPV
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aborto
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