quarta-feira, dezembro 19, 2007

Presépio na boca dum protestante


«Embora no nosso país a tradição católica de culto aos santos tenha suscitado em muitos evangélicos uma recusa "a priori" do presépio como símbolo natalício, sou de opinião que hoje, com a nossa mente liberta de superstições e idolatrias do passado, não deve haver relutância em adoptar o presépio como o mais natural, e indicado símbolo do Natal, pois quer didáctica quer criativamente, é, sem comparação, o mais próprio e adequado à festividade que se comemora, e montar um presépio em nada infringe o mandamento "não farás para ti imagem de escultura alguma, nem lhes darás culto", porque não será essa a intenção, mas simplesmente ensinar à criança através da habilidade manual, da criatividade plástica e da imaginação, a mais linda história que se lhe pode contar e visualizar. Esta é uma opinião pessoal que concordamos que haja quem com ela não concorde.

A Arvore de Natal, símbolo preferido dos Protestantes, e hoje universalmente adoptado, dizem ter sido criação da imaginação de Martinho Lutero, para numa noite de Natal entreter seus filhos, adornando-a e cantando canções que compunha, pois era também músico e cantor.
A beleza do pinheiro alpino, especialmente quando carregado de neve, nos Dezembros frios do Norte da Europa é certamente uma imagem de grande beleza, e só por si dispensa adornos para se tornar encantadora Mas, como perguntar não ofende, e responda quem puder, que tem a árvore a ver com a história do nascimento de Jesus? Será que a perenidade da sua roupagem verde simboliza vida e esperança? Cremos que é aí que podemos encontrar alguma simbologia embora remota, com alguma relação à vida e missão do Salvador, mas nunca com relação directa ao seu nascimento. Daí que nos pareça forçado insistir-se em ter árvores de Natal nos salões de culto, onde por vezes se cai no autêntico disparate, liturgicamente chocante, de terminarem cultos do Natal cantando o "Meu bom pinheirinho"!...

Não gostaria de aprofundar mais esta nota sobre a árvore de Natal, que aprecio desde menino, que gosto de ver nas festas de pequenada, mas sinto que devo lembrar aos leitores que sua rápida adopção, especialmente pelos povos nórdicos e de origem germânica, teve muito a ver com os pro fundos estratos do insconsciente colectivo desses povos, em cujos cultos pagãos pré-cristãos, as árvores de grande porte tinham um lugar privilegiado, como símbolos do poder da natureza e habitação de espíritos.»
Ireneu Cunha, Bispo Metodista

11 comentários:

Em contra-corrente disse...

Palavras corajosas de um bispo protestante que muito tem feito pelo ecumenismo.

Anónimo disse...

Os católicos é que estão no bom caminho, quererá dizer este Metodista.
Mas eu tenho opinião contrária. Fazer figuras é proibido na Bíblia.
Jonas

Nelson Viana disse...

"Breve esclarecimento:

Imagem: é a representação de um ser em seu aspecto físico. Assim, imagem é uma fotografia, uma estátua, um quadro, etc.

Ídolo: É um falso deus, inventado pela fantasia humana (sol, lua, animais, etc.)

Adorar: É o acto de considerar Deus como o único Criador e Senhor do mundo.

Idolatria: É o acto de adorar o falso deus, ou seja, é considerar o falso deus como criador e senhor do universo.

Venerar: É imitar, honrar, louvar, homenagear, saudar.

Numa da passagens do livro do Êxodo, Deus parece proibir o uso de imagens: “Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostrarás diante dessas coisa e não as servirás…” (Êxodo 20, 4-5)
Mas porquê essa proibição? Porque podiam provocar no povo de Israel, uma vontade de as adorar, como faziam os povos vizinhos. Os Israelitas tendiam a imitar gestos religiosos pagãos e, por isso, caíam muitas vezes na idolatria. Assim, vemos que Deus proibe a fabricação de ídolos. E em relação às imagens?
Ora, tomadas as cautelas contra o perigo da idolatria, percebemos que Deus, não somente permitiu, mas até mandou que se fizessem imagens sagradas. Vejamos: “…Fareis uma Arca de madeira de acácia, e terá de comprimento dois côvados e meio; um côvado e meio de largura e um côvado e meio de altura…Farás um propiciatório de ouro puro, com dois côvados e meio de comprimento, e um côvado e meio de largura. Depois farás dois querubins de ouro martelado, de uma só peça…estes querubins terão as asas estendidas para diante, cobrindo com elas o propiciatório, estarão voltados um para o outro, e os seus rostos estarão inclinados para o propiciatório…” (Êxodo 25, 1-22)
Assim, vemos que Deus manda Moisés colocar dois querubins (anjo figurado por cabeça de criança com asas) de ouro na Arca da Aliança, onde falava com o seu povo. No templo construído por Salomão ao Senhor, foram colocados também querubins de madeira junto à arca da Aliança. E as paredes do Templo tinham imagens de querubins. Tudo feito por ordem de Deus : ”No santuário colocou dois querubins de pau de oliveira, que mediam dez côvados de altura…Em todos os muros mandou esculpir por dentro e por fora querubins, palmas e flores…” (1Reis 6, 1-38). Vemos mais adianta, que no Palácio de Salomão, também havia bois de metal, leões, querubins: “…o mar assentava em doze bois de metal, voltados para fora…Sobre as placas, entre as molduras, havia leões, bois e querubins…” (1 Reis 7, 1-39). Voltando um pouco atrás na Bíblia, no Livro dos Números, vemos que Deus ordena a Moisés que este fizesse uma serpente de bronze, e que quem olhasse para ela, seria salvo: “…O Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.» Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia” (Números 21, 4-9)."

in Porque sou Católico

Texto na integra em: www.porquesoucatolico.blogspot.com

Ver para crer disse...

Nelson:

Completamente de acordo com o teu texto.
Nem a prosa inserida foi posta para rebater a doutrina da Igreja Católica. Antes pelo contrário.
Um abraço e Bom Natal.

natenine disse...

Sou Cristão Evangélico e confesso, na minha casa não há nem árvore de natal, nem presépio. Isto não acontece por discordar ou não achar bonito símbolos que nos apontem para o natal, uns com mais significado que outros, acontece por um misto de falta de espaço e paciência.
No que diz respeito às imagens, realmente elas não devem ser adoradas, produzidas não é propriamente o problema. A meu ver o que Deus manifesta é que quer que a Adoração a Deus seja exclusiva e não esteja dependente de um espaço ou de um horário, onde tenho uma imagem diante, a adoração é 24h por dia, expressões de adoração podem ser em pensamento, as imagens tendem a prender a nossa adoração num espaço ou de uma maneira, Deus realmente deseja ver liberdade na adoração, em espírito e em verdade.

antonio disse...

Por vezes o opor-se à Igreja Católica, num taco a taco, não deixa de levar consigo sementes de contaminação.

E cai-se no erro que se pretende condenar.

Nelson Viana disse...

Ver para crer (desculpa, não sei o teu nome :)

O texto que deixei foi somente uma resposta ao comentário anterior ao meu.

Que Maria nos ensine cada vez mais a "guardar (meditar) todas as coisas no coração". Que o seu exemplo de humildade sirva para que um dia também nós possamos dizer:

“ A minha alma glorifica o Senhor...porque pôs os olhos na humildade da sua serva...o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas”.

Um Santo Natal também para ti e um Ano Novo cheio de alegria cristã.

Nelson

Jose Cruz disse...

Deus quando instituiu esse mandamento tinha também como intenção que o recebamos em espirito e em verdade, como disse o Senhor Jesus Cristo.
A melhor forma de ensinar uma criança é ensinar-lhe a chegar a Deus em espírito e não com a carne.
Porque a carne milita contra o espirito e o espirito contra a carne, são inimigos um do outro!
Como disse Jesus: "Deus é Espirito e importa que nos cheguemos a Ele em espirito".
Nunca esquecer, que foi Deus quem nos fez e não somos nós que o fazemos a Ele!
De Deus não se zomba, o que o homem plantar também ceifará.

Jose Cruz disse...

Sr Nelson Vieira,

se ler o mandamento de Deus Ele diz que "Não farás para ti..."

Aqui o importante é o "para ti".
Quando Deus pediu para fazer as estátuas e querubins foi para Ele e não para o povo de Israel.

E se ler o resto da Biblia vai verificar que sempre que o povo tinha estatuas ou outros idolos eram punicos severamente ficando por vezes até escravos de outros povos. Acho que a história de Israel ao longo do Velho Testamento mostra claramente que Deus é e sempre será contra ídolos.

Disse Jesus:
"Deus é Espiritos e importa que o adorem em espirito e verdade..."

Não se pode adorar a Deus sem ser em espírito, e os idolos atrapalham, porque obrigam as pessoas a usar os sentidos da carne e assim não conseguem desenvolver a sua comunicação com Deus! Não comunicando com Ele, não têm comunhão com Ele, não tendo comunhão com Ele, não têm a Salvação dEle, e logo estão sujeitos a todos os perigos do mundo. Já para não falar daquele após a morte... mas esta já e outra história!

Deus o abençoe e são meus votos que o ilumine a toda a verdade.

Alma peregrina disse...

Caro Sr. José Cruz:

Como o Sr. Nélson Viana já referiu, existe uma diferença entre "ídolo" e "imagem". O "ídolo" pressupõe adoração, ou seja, que uma estátua feita pelo Homem seja equiparada a Deus.
A "imagem" não é "adorada", mas "venerada", ou seja, o objecto a partir do qual essa "imagem" é produzida é homenageado e honrado. Assim sendo não há mal nenhum na "imagem" se o seu objecto apontar para Deus. Deste modo a "imagem" não está a substituir Deus (a ser idolatrada) mas a tornar Deus mais presente.

Desse modo, a sua lógica está errada. A representação de imagens não afasta as pessoas de Deus, antes aproxima-as (porque o Homem é um animal sensível). Basta recordar que, na Idade Média, a única experiência que aproximava a maioria das pessoas do divino (e que permitia uma melhor compreensão por parte delas) era as representações e imagens nas igrejas. Tal fomentava a piedade popular, não a afastava. As imagens serviam como instrumento de instrução na Fé.

“Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostrarás diante dessas coisa e não as servirás…” (Ex 20, 4-5)

Quando Deus instituiu o Mandamento, estava a impedir que Israel sucumbisse a tentação de imitar os países vizinhos na sua idolatria (o que acabou por suceder não raras vezes no Antigo Testamento, com as punições que referiu).
Tal não se devia (somente) ao facto de Deus ser "puro Espírito" mas de Ele ser infinitamente mais complexo do que a mente humana é capaz de conceber. Deus não Se tinha manifestado e, como tal, toda e qualquer representação que o Homem fizesse d'Ele seria obrigatoriamente uma projecção de uma coisa criada. Deste modo a coisa criada seria adorada como Criador, caindo-se na idolatria.

Este problema findou quando Deus Se manifestou, Se tornou Ele próprio uma imagem e, deste modo, representável aos nossos sentidos. Deus fê-lo encarnando em Jesus Cristo e, posteriormente, derramando o Seu Espírito Santo sobre a Sua Igreja.

Assim sendo, segundo a lógica do Antigo Testamento, fazer uma imagem de César ou do Faraó era idolatria, uma vez que o homem foi feito à "imagem e semelhança de Deus" (Gn 1:27) e, portanto, representar César/Faraó era adorar um ser criado no lugar do Criador. Por outro lado, tendo Deus encarnado em Jesus, esse problema já não existiria. Tal como não existiria nas imagens dos Santos (que são veículos do Espírito Santo). A única salvaguarda é a de que não estaremos a "adorar" as próprias estátuas, mas a "venerar" as formas como Deus Se manifestou perante nós, adorando-O a Ele.

"…Deus é Espírito e importa que o adorem em espírito e verdade…" Jo 4:24

Este versículo está no contexto da samaritana a quem Jesus pede água. Nos versículos anteriores, ela fala da separação entre judeus e samaritanos, sendo que os judeus adoravam Deus no Templo de Jerusalém, enquanto os samaritanos adoravam Deus no monte Garizim (que ela refere no versiculo 20). Jesus finda esse cisma, dizendo que, em breve, Deus será adorado em todo o Mundo e não somente naqueles locais particulares (trata-se de uma profecia).

Além disso, Jesus está a dizer que é necessário que todos adorem Deus em "espírito e verdade". Estas palavras foram bem medidas pelo evangelista e devem ser entendidas no contexto do Evangelho escrito. Significam que devemos adorar Deus através de Jesus, pois Jesus é a "graça (espírito) e a verdade" (Jo 1:17). Jesus não está a sublinhar o Mandamento, está a pedir que todos O adorem como verdadeiro Deus (o que, sucedendo, permitirá que a Palavra se espalhe por todo o Mundo, pois o Templo de Jerusalém dera destruído).

Se nós interpretássemos a passagem como você afirma, então a conclusão lógica seria:
1) Jesus não é Deus (porque não é puro Espírito)
OU
2) Jesus não é um verdadeiro homem (pois é Deus e, logo, puro Espírito).
Como sabemos pela Fé que Jesus é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, então é porque este versículo da Bíblia não deve ser entendido como o Sr. José Cruz pretende.

"Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.» Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia” (Num 21, 4-9).

Este exemplo (e os outros do Sr. Nélson Viana) não demonstra imagens que Deus pediu para Si (e não para os homens). Porque Deus não precisa de imagens feitas por nós. O que imagens feitas por homens podem oferecer-Lhe? Para que Deus precisaria de imagens feitas por homens para Si?

Não. As imagens que Deus mandou fazer são para nós. O que é auto-evidente no episódio da serpente de bronze. A veneração dessa serpente não serviu a Deus, mas aos hebreus, curando-os das suas maleitas.

Este episódio ainda reforça mais a tese a favor das imagens, porque a serpente de bronze no poste prefigura Jesus na cruz, curando-nos do pecado. Em ambos os casos, a cura foi obtida através de uma imagem, posto que a imagem foi concebida por Deus e não pelos homens. Os homens limitaram-se a esculpir a serpente (a imagem que Deus concebeu) e a venerara-la, adorando Deus através dela.

Resumindo, o Homem não deve confiar numa imagem feita por si próprio, a partir das suas próprias experiências e conceitos. Por outro lado, o Homem deve confiar em Deus e em toda e qualquer imagem que Ele faça para nós (do qual o paradigma é Jesus Cristo).


Mas estamos a chover no molhado. Tudo o que está aqui a ser discutido já foi extensamente debatido por pessoas que sabiam muito mais do que nós. Concílio de Niceia II. Segundo esse concílio, a iconoclastia é anátema. A produção de imagens é permitida na Igreja Católica Romana e nas restantes Igrejas Apostólicas, desde que as as noções que o Sr. Nélson Viana mencionou estejam salvaguardadas.

Cumprimentos e que a verdade nos ilumine a todos

Anónimo disse...

Uma das características de alguns protestantes - e das Testemunhas de Jeová, em particular - é acusar os outros cristãos de idolatria. E não aceitam a explicação de que as imagens não são para adorar, mas para venerar quem elas representam!!!
Pergunto: Será que nenhum protestante costuma trazer na carteira ou ter expostas em casa fotografias dos entes queridos - esposa, marido, filhos, etc.? E isso é para adorá-los? Ou para os venerar e honrar?!...
São uma pequena minoria os que criticam tal, pois a grande maioria dos cristãos honra os santos e a Deus através de imagens.
Estarão estes enganados ou aqueles?
Católicos e ortodoxos, anglicanos e muitos mais têm a seu favor os concílios que estudaram o assunto e não viram mal nisso.
Eu não acredito que Jesus deixasse a maioria dos cristãos viver assim no erro. Ele prometeulhes a assistência do Seu Espírito e disse mesmo:
"Eu estarei convosco até ao fim dos séculos" (Mt 28,20)