terça-feira, setembro 26, 2006

As heresias entre os cristãos



Afirmei no meu segundo artigo desta secção que todas as igrejas ditas cristãs aceitam os mesmos livros do Novo Testamento Bíblico. Porém isso não é nem nunca foi suficiente para a unidade da Fé. E as divergências são muitas e substanciais. Eis alguns exemplos:

Uns afirmam que Jesus é Deus, com o Pai e o Espírito Santo e outros acham que ele
é apenas homem ou mesmo anjo;
Uns pensam que Maria é verdadeira mãe de Jesus, outros acham que ela é apenas mãe adoptiva;
Uns afirmam que os cristãos podem comer e beber de tudo, outros dizem que não se pode comer carnes de animais impuros ou não sangrados e não se podem beber bebidas alcoólicas ou fazer transfusões de sangue;
Uns veneram os Santos, pedem a sua intercessão e fazem-lhes imagens e outros dizem que isso é idolatria;
Uns aceitam o baptismo de crianças e guardam o Domingo, outros acham que isso é ir contra a Bíblia;
Uns acreditam na vida para além desta vida, acreditando no céu e no Inferno, outros ensinam que só os justos terão outra vida – 144 mil no Céu, os restantes na Terra;
Uns acham que a religião cristã nos manda ser desprendidos dos bens da terra, outros ensinam que as riquezas terrenas são paga e bênção de Deus.


Como entender tais divergências?
O Novo testamento já tinha alertado para o surgimento de novas doutrinas.
Quando o apóstolo S. Paulo chegou a Mileto, enviou um recado aos chefes da igreja de Éfeso para que se encontrassem com ele, pois queria falar-lhes. O texto de Actos 20.17-38 conta a despedida de Paulo e suas advertências:

«Sejam pastores da Igreja de Deus, pois Ele adquiriu-a com o sangue do Seu próprio Filho. Sei, que depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vós e não pouparão o rebanho. E dentre vós mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os crentes para si mesmos. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que, por três anos, jamais cessei de advertir a cada um de vocês, noite e dia, com muitas lágrimas" (Actos 20.28-31).
Ao escrever a Timóteo, S. Paulo declara: "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas do Demónio" (1Timóteo 4:1).

10 comentários:

Em contra-corrente disse...

Se todos estão baseados na Bíblia, como explicar tantas e tão extremadas divisões?
Cristo é Deus e não é Deus?

PDivulg disse...

Quem esterá certo quem está errado?... Sempre que se fizer o bem está-se certo.

Ver para crer disse...

Em contra-corrente:
Também eu faço a mesma pergunta.
Só o orgulho do homem pode explicar tais divergências.
Por isso temos que conhecer qual é o ensinamento dos Apóstolos e das pessoas que lhes sucederam na missão de levar a Palavra de Deus aos homens.

Ver para crer disse...

pdivulg:
O que fizer o bem bem feito, concordo.

Anónimo disse...

Alguém tem de estar enganado ou então anda a enganar.
Se a Bíblia diz claramente que Jesus Cristo é Deus, igual ao Pai, de condição divina, como podem as testemunhas de Jeová dizer que Ele não é Deus?
O que é branco é branco, não é preto.

Vítor Mácula disse...

Alô!

Penso ser preciso algum cuidado no entendimento do verbo "ser" na frase "Jesus é Deus"... A consubstancialidade ou igualdade de natureza ou transparência absoluta ou que se quiser gaguejar para indicar a relação de Jesus com Deus, não significa igualdade.

Este é evidentemente um ponto cristão duro como cimento para o nosso entendimento e sensibilidade, e daí apelar à delicadeza e cuidado na abordagem.

Quanto à noção de heresia (escolha) tenho uma questionável tendência para entendê-la como escolha de um dos polos dos paradoxos cristãos (por exemplo e a propósito, a divindade de Jesus em detrimento da sua humanidade ou vice versa)... Basta ter em conta o modo como a polémica cristã e concílios correspondentes têm tratado da ortodoxia cristã. Não se trata para mim (e aqui é que se dá uma das "questionabilidades";) de "é errado escolher, o magistério (ou o que fôr) já escolheu pela pessoa"... Sem subjectividade autónoma e assumida, não há conversão (seria conversão de quem, do quê?...)

E a conversão à comunhão... é afinal o que "conta".

Abraços!

Ver para crer disse...

Vítor:

Tu que és entendido na matéria explica-me:

Estará certo dizer que Jesus tem a natureza divina mas é uma pessoa diferente do Pai e do Espírito Santo?
Como eu e tu somos igualmente humanos mas pessoas diferentes?

Com a ressalva de que isto de explicar mistérios nunca foi fácil!!!

Vítor Mácula disse...

Eh lá… Bolas, não sou nada um entendido na matéria… Sou apenas um convertendo-se que tenta que o que diz, pensente e faz, esteja consistente e não sejam apenas palavras que nem eu mas represento nem me configuram o viver… Jesus é Deus… O que quero eu dizer com isto?... Que Jesus, que nasceu em Nazaré e morreu crucificado na cruz em Jerusalém trinta e poucos anos mais tarde é Aquele que na Eternidade cria e mantém o mundo?… Penso que só aqui, e para qualquer pessoa frontal, mesmo que desentendida, põe-se um problema de expressão e compreensão…

Jesus é o verbo divino tornado humano… A relação entre a pessoa humana de Jesus, o verbo divino, Deus “ele-próprio” e o Espírito deste é, como dizes, dificílima de pensar (a rigor, penso até que, para um humano que não Jesus, impossível de apreender na totalidade, mas não ponho as mãos no fogo e falo apenas por mim). A mim, a noção de “transparência” ajuda-me imenso a relacionar-me com tal mistério… Penso também que a participação de Jesus na natureza de Deus não é bem como à dos espécimes humanos na natureza humana. Penso que a plenitude de comunhão entre Jesus e Deus não é atingida em nenhuma relação humana (enfim, volto a não pôr as mãos no fogo etc), embora como cristãos devamos tender para tal na fraternidade e no casamento e na pastorícia e… caramba, requer-se mesmo um entendido na matéria ;)

Relativamente à noção de “transparência”, a MC pôs uns óptimos posts no Jardim de Luz.

Abraços, e bom fim de semana.

Anónimo disse...

Ora, vítor:
Troca isso por miúdos, que eu não entendi patavina.

Anónimo disse...

Caro anónimo.

Se não percebe o problema do primeiro parágrafo do meu segundo comentário (Jesus que nasceu em Nazaré etc), é porque ele não se põe para si.

E nesse caso, não precisa de entender nem deixar de entender. Não vale a pena debater-se com coisas que não nos sufocam.

Um abraço.